sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Se's

Se não houvesse essa inquietação
Se houvesse algo para distrair este coração
Se as horas distantes fossem normais
Se as horas distantes fossem de paz

Se pudesse dizer que sem ela estou bem
Se, mesmo com a distância, eu fosse alguém
Se não sonhasse a cada hora com seu sorriso
Se pudesse dizer que ela não é o que eu preciso

Longe de meu coração desejar a maldade
Essas hipóteses nunca haverão de vingar
Esses se's continuarão a serem suposições, não verdade.

Em meu peito, eles são motivos para me alegrar
São provas de que, quanto maior a saudade
Muito maior meu pesar e por ela meu amar.

Rafael Moura, 18/12/2009
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Now playing: Betwen The Buried And Me - Mirrors
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Solano Trindade

SOLANO TRINDADE, "o maior poeta negro que o Brasil já conheceu", segundo ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade, foi também ator, pintor, cineasta e o criador do Teatro Experimental do Negro.

Esse pernambucano conquistou prêmios internacionais e, apesar de ter divulgado o nome do Brasil no exterior, acabou esquecido: morreu como indigente, num hospital do Rio de Janeiro. Hoje, quase ninguém mais fala desse filho de um humilde sapateiro do bairro de São José que viveu para cantar a sua gente.

Poeta, cineasta, pintor, homem de teatro e um dos maiores animadores culturais brasileiros do seu tempo, o pernambucano Francisco Solano Trindade foi, para vários críticos, o criador da poesia "assumidamente negra" no Brasil. Premiado no exterior, elogiado por celebridades como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet e tantos outros, o negro (e pobre) escritor recifense está hoje completamente esquecido, apesar de tudo o que fez pela cultura e pelas artes do País. Para se ter uma idéia da importância do poeta, que era filho de um humilde sapateiro do bairro de São José, basta uma rápida reconstituição de sua biografia.

Depois que deixou o Recife e fixou residência no Rio de Janeiro, Solano Trindade foi o idealizador do I Congresso Afro-Brasileiro e, anos mais tarde (1945), criou, com Abadias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro. Depois (1950), concretizou um dos seus grandes sonhos, fundando, com opoio do sociólogo Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro (TPB). Em 1955 criou o Brasiliana, grupo de dança brasileira que bateu recorde de apresentações no exterior. No teatro, foi Solano Trindade quem primeiro encenou (1956) a peça "Orfeu", de Vinícuis de Morais, depois transformada em filme pelo francês Marcel Cammus.

Mas a biografia de Solano Trindade não pára por aí. Em São Paulo, onde o TPB empolgou platéias no Teatro Municipal, foi ele quem transformou a cidade de Embu num centro cultural onde dezenas de artistas passaram a viver da arte. No exterior (Praga), realizou o documentário "Brasil Dança". Como ator, trabalhou nos filmes "Agulha no Palheiro", "Mistérios da Ilha de Vênus" e "Santo Milagroso". E mais: foi co-produtor do filme "Magia Verde", premiado em Cannes. Na literatura, Solano estreou em 1944, com "Poemas de uma Vida Simples" e publiou ainda outros dois livros: "Seis Tempos de Poesia" (1958) e "Cantares ao Meu Povo" (1961).

Enquanto atuou na vida cultural brasileira, Solano Trindade ("esse genial poeta", na classificação de Carlos Drummond de Andrede) recebeu os maiores elogios da crítica. Seu livro de estréia, por exemplo, foi classificado por Otto Maria Carpeaux como "uma pequena preciosidade". Tinham opinião semelhante sobre a sua poesia, nomes de peso como Afonso Schmidt, Roger Bastides, Fernando Góes, Arthur Ramos e Nestor de Holanda. Já o trabalho do Teatro Experimental do Negro (TEN) foi, segundo Darcy Ribeiro, "um núcleo ativo de conscientização dos negros, para assumirem orgulhosamente sua identidade e lutar contra a discriminação".

Aliás, todo o trabalho de Solano Trindade (quer no teatro, dança, cinema ou literatura) tinha como características marcantes o resgate da arte popular e, sobretudo, a luta em prol da independência cultural do negro no Brasil. A ponto de Sérgio Milliet chegar a escrever que "poucos fizeram tanto quanto ele pelo ideal de valorização do negro em nossa terra". Estaria aí uma razão para o seu esquecimento? Fica a pergunta. O certo é que, durante a estréia no Rio, em maio de 1945, o TEN sofreu violentos ataques dos conservadores. Em editorial, o jornal O Globo chegou a afirmar que se tratava de "um grupo palmarista tentando criar um problema artificial no País".

Solano Trindade nasceu no Recife a 24 de julho de 1908. Aqui, criou em 1932 a Frente Negra Pernambucana, mas o movimento não vingou. Enquanto viveu no eixo Rio-São Paulo, ao mesmo tempo em que sua obra ganhava fama entre a crítica nacional e repercussões no exterior, nunca deixou de realizar oficinas para operários, estudandes e desempregados. Em 1944, por conta do poema Tem Gente com Fome, foi preso e teve o livro "Poemas de uma Vida Simples" apreendido. Em 1964, um dos seus quatro filhos (Francisco) morreu numa prisão da didatura militar. A 20/02/ 1974, Solano Trindade morreu como indigente, num hospital no Rio de Janeiro.

Um das poucas tentativas de trazer de volta o nome de Solano Trindade para o grande público ocorreu entre 1975, quando o poema Tem Gente com Fome iria integrar o disco dos Secos & Molhados. Mas, como explicou João Ricardo (que musicou o poema), problemas com a censura impediram a gravação. Só na década de 80, Ney Matogrosso gravaria a canção. Além disso, em 1976 a escola-de-samba Vai-Vai, do Bexiga, São Paulo, desfilou no carnaval com o enredo em homenagem ao poeta. E ano passado uma pequena editora (a Cantos e Prantos, SP), reuniu a obra do poeta no volume


"Solano Trindade - O Poeta do Povo".

O lançamento do livro no Recife estava programado para julho de 2000, numa iniciativa de uma filha de Solano Trindade que viria do Rio de Janeiro especificamente com esse objetivo. Mas, em decorrência das limitações estruturais da editora, o lançamento não ocorreu e a edição está longe de constituir um justo resgate da obra do escritor que dedicou toda a vida ao estudo sério e aprofundado da cultura negra e, um dia, declarou: "A minha poesia continuará com o estilo do nosso populário, buscando no negro o ritmo, no povo em geral as reivindicações sociais e políticas e nas mulheres, em particular, o amor. Deixem-me amar a tudo e a todos".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Oração

Eternas estrelas, brilho sem fim
Eterna lua, globo de marfim
Eterno sol, luz incandescente
Eterna Terra, hoje já decadente

Eternos rios, eternos mares
Eternos gelos não mais eternos
Eternos átomos que preenchem os ares
Eternas estações, eternos ares primaveros

E também Tu, Único Acima
Vós todos que do tempo são senhores
Apesar de toda esta parca rima

Concedei-nos a força de todos os amores
Concedei-nos o fogo eterno que anima
Um amor para sempre, simples, sem temores

Rafael Moura, 18/11/09

Era pra ser uma oração, não gostei muito do que acabou surgindo...
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Now playing: No Consequence - Age Of Fear
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domingo, 15 de novembro de 2009

Selinho


Ganhei esse selo da Andressa Pereira. Ainda não sei muito bem o que fazer com ele (eu e meus conhecimentos atualizadíssimos da blogsfera). Nway...

As regras são dizer coisas que começam com:
1) - Eu já... solucei de tanto chorar ao perceber que estava perdendo a mulher que eu amo;
2) - Eu nunca... consegui entender porque as mulheres sempre preferem os cafajestes;
3) - Eu sei... que os rios e as pessoas sempre são diferentes;
4) - Eu quero... sempre ser o que quiser, sem desesperar;
5) - Eu sonho... em fazer a Eva sempre feliz.

E.. indicar para 5 blogs.
Eis o problema. Vou ficar devendo isto, não tenho ninguém pra enviar. Sou um solitário da blogsfera, portanto, nem rola.. =/

Nway, vou indicar cinco blogs que acho legais:

1) Miríade - Mil em Uma
2) Poemblog
3) Morro Guarda-Chuva
4) Falando de Fantasia
5) Neuróticos Modernos - Filosofia Mequetrefe

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Longe de Ti

Longe de ti

Longe de teus ouvidos
Todo som emudece, vira vibração inaudível no ar
Toda palavra pronunciada parece carecer de sentido
Toda jura de amor perde o motivo
Longe de tua pele
Todas as mãos atrofiam, todas estão sujas
Todos os toques tocam o espaço, o vazio
Todas as unhas arranham nosso próprio coração
Longe de teu cheiro
Todos os narizes estão onde não foram chamados
Todos os perfumes exalam choro e morte
Todos os cheiros lembram tua pele
Longe do teu brilho
Todos os dias são breu, sao piche
Todos os sóis são substitutos falhos
Todas as estrelas choram tua falta
Longe dos teus olhos
O mundo, cego, deixaria de aparecer
Lágrimas escorreriam dos meus olhos
Meu sorriso perderia o brilho pouco que tem
Longe dos teus sorrisos
Tudo o mais não faria sentido
Nenhum batimento, nenhum suspiro
Não existiria nada para chamar de Eu...

Rafael Moura

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

(Só)Mente sem Paciência

A pele incomoda sobre a carne,
Os nervos ligam-se a músculos diferentes.
Ossos disformes não se encaixam com perfeição,
A respiração segue um ritmo que não é nosso...
Que mão é essa no lugar de nossa antiga mão?
Quem é esse rosto no meu rosto?
Pulsos de voltagens diferentes dançam
Por entre neurônios alienígenas...
O estômago, também diferente, embrulha-se
perante a resposta do espelho à frente.
Pernas que nos levam a lugares estranhos,
Pensamentos que nos levam a lugares estranhos.
Enquanto o coração, único que é o mesmo,
Perde a paciência consigo mesmo...

Rafael Moura, 13/10/2009
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Now playing: Mypollux - Aux Ames
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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O erro de confudir causa e conseqüência

"O erro de confundir causa e conseqüência. - Não há erro mais perigoso do que confundir a conseqüência com a causa: chamo-o de a verdadeira corrupção da razão. (...) A Igreja e a moral dizem: "Uma estirpe, um povo, são arruinados pelo vício e pelo luxo". Minha razão diz: quando um povo se arruína, quando degenera fisiologicamente, então seguem-se o vício e o luxo (quer dizer, a necessidade de estímulos cada vez mais fortes e mais freqüentes, conforme a conhece toda natureza esgotada). Esse homem jovem fica pálido e murcho precocemente. Seus amigos dizem: a culpa é desta ou daquela doença. Eu digo: o fato de ter adoecido, o fato de não ter resistido à doença, já foi conseqüência de uma vida empobrecida, de um esgotamento hereditário. O leitor de jornais diz: com um erro desses, esse partido se arruína. Mas minha política superior diz: um partido que comete um erro desses está acabado - ele perdeu a sua segurança institiva. Todo erro, em todos os sentidos, é conseqüência de uma degeneração dos instintos, de uma desagregação da vontade: ...)"

F. Nietzsche, Crepúsculo dos Ídolos

Não consigo ler estas linhas sem pensar na questão da (falta de) segurança no mundo (não só no país). Infelizmente, o que circula na feira é que a falta de segurança por parte do governo e a "falta de humanidade" por parte dos criminosos é culpa da insegurança que permeia a sociedade. Mães perguntam-se "onde esse mundo vai parar, meu Deus?", enquanto pais economizam para colocar mais grades e cadeados nas janelas. Como todo bode expiatório ao longo da história, os marginalizados sempre acabam pagando com a vida pela culpa dos outros. Aquele rapaz de 14 anos que serve como aviãozinho não é a causa. Aquele homem de 43 anos que coloca uma arma na cintura e vai esperar algum aposentado sair do banco não é a causa. A moça bonita que usa sua beleza pra ludibriar o guarda do condomínio enquanto outros 8 entram no prédio não é a causa. Estas "causas" são a causa da verdadeira causa não ser descoberta (e haja causa!). Enquanto pensarmos nestes fenômenos como causa imediata, e não como conseqüência, as verdadeiras causas continuarão camufladas, bem como querem os que se beneficiam com a situação.

Entendo que é mais fácil achar uma boa desculpa do que pensar nas causas. Entendo que é mais fácil ainda quando a desculpa nos é dada diariamente, pelos formadores de opinião. Mas enquanto não "descobrirmos" que aquilo que achamos que é a causa na verdade é a conseqüência, nenhum dos problemas, especialmente o de segurança pública, será resolvido. É o mesmo que querer acabar com um formigueiro matando as formigas que estão no doce. Infelizmente, a formiga rainha está em todos nós.
Rafael Moura, 30/09/2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Distância de Tudo




Longe das seges apressadas
Longe dos bailes, longe das liras
Longe das líricas notas afinadas
Longe dos amores, longe das iras

Longe das estrelas e seu brilho fraco
Longe da névoa sombria ao luar
Longe da vida e seu brilho opaco
Longe da terra e seu brilho vulgar

Longe de todo cotidiano mortal
Longe da alegria, absinto que alucina
Longe de todo bem, distante de todo mal

Longe de todo sopro saído da boca divina
Incompleto, inerte, boneco carnal
Longe da minha metade mais menina

Rafael Moura, 28/09/09
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Now playing: Coralie Clément - L'enfer
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Tu, de Maiakósvki

"Tu

Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhoritas exclamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
Derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu de júbilo
Esqueci o jugo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve,
tão bem me sentia."

Maiakósvki

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Apaixonado

Passando só pra matar as saudades. Na verdade, saudade é um conceito que tenho me familiarizado muito desde março. Infindáveis minutos de saudade, seculares segundos de saudade... Como não tenho nada novo pra postar, deixo aqui um poema de Jorge Luis Borges, poeta argentino (apesar de não parecer, a Argentina tem muita coisa boa: Carlos Gardel, Piazzolla, esse moço aqui) que conheci esta semana. O Piazzolla até musicou algumas coisas dele, muito legal.

Achei interessante esse poema, pq ele brinca com a idéia de desnecessariedade de todo o resto, quando se está apaixonado. Para nós, pouco importa o que há além daqueles olhos brilhantes, daquele sorriso encantador, daquela "plantação de rubis"...

"O Apaixonado

Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura."

Jorge Luis Borges
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Now playing: 20 Yann Tiersen - La valse des monstres
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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Os Teus Sorrisos

Escapa aos lábios sorrateiro, ingênuo..
Como quem nada quer, estica-os como a um arco,
prepara-se para ser solto ao ar.
Os lábios, antes castigados e mordidos,
Agora mexem-se com desenvoltura de ginasta.
Brilhos de fogos de artifício surgem,
Fugindo preguiçosamente dos lábios entreabertos.
Montanhas róseas movem-se como por milagre,
Enquanto um Maomé incrédulo agradece a Allah
Por tal paraíso que abre-se à sua frente.
Os olhos afiam-se, semicerrados,
Prontos a partir ao meio qualquer coração incauto.
Linhas formam-se e avolumam-se ao redor,
Arautos da majestade que virá.
E eis que os lábios, antes uma só linha,
dividem-se, fazendo uma curvatura improvável,
a curva da abóbada celeste.
Semelhante ao arco, a vibração faz tremer.
Porém, tremem de arrepios aqueles que o viram.
Ele lança-se ao ar, irresponsável e cativante,
Explodindo no ar como chuva torrencial,
Encharcando meu coração de alegria...

Rafael Moura, 10/08/2009
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Now playing: Ingrid Michaelson - The Way I Am
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terça-feira, 17 de março de 2009

O Eco dos Passos





















Os passos dele ressoam no salão.
Em meio a milhões de vozes, ele está sozinho.
Como um médico que grita por sanidade
numa casa de loucos...
O guarda-chuva sustenta o corpo,
a chuva de lágrimas e o coração em chamas.
Os sentimentos, fios de chumbo,
que nem as pernas de aço sustentariam...

Os saltos dela vencem os degraus de acesso.
A porta abre-se para tão grande coração passar.
Os cabelos e o vestido, num ritmo uniforme,
balançam corações e desejos...
As flores junto ao peito tentam, em vão,
calar um grito que insiste em ecoar.
O vestido arrasta-se entre orgulhos,
abre caminho entre copos e tonéis de ódio!

Olhos brilhantes, pernas vagas,
passos ecoam ao mesmo tempo por entre os pilares...
Os suspiros evocam um antigo tempo em comum
e demonstram um futuro desejo em par.
Os olhares, cansados de tantos corpos,
já desistiam de explorar a realidade...
“Porque perder tempo com tais rochedos?
Com tais asas enormes, podemos voar!”

E no entanto, os olhos se cruzam...
Arritmados, os corações esquecem de bater,
o dele queima como mil sóis ardentes,
o dela pesa mais que o mundo de Atlas...
As pernas, a esta altura já livres de prudência,
dirigem-se ao encontro inevitável.
O ar, fugindo dos pulmões,
percorre o espaço cada vez menor entre os dois...

Estão próximos, tão próximos que
os pensamentos pulam entre suas mentes,
tão próximos que o calor dos corpos
fundem-se num sistema único.
As mãos tocam-se, gélida pedra e fogo ardente,
unem-se num material raro, único,
em forma de um coração gigante...
Peça rara a que chamamos de amor...

Rafael Moura, 17/03/2009

*Desenho feito por Tiago Vieira*
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Now playing: 20 Yann Tiersen - La valse des monstres
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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Cidades

Ecoam por entre os vales de concreto,
perdem-se nas planícias de asfalto.
A natureza
(al)
terada
(adul)
terada
Terá ela paciência mais
vez que mais e mais
mais estamos e mais matamos...
O vento quente até poderia sussurrar
aos ouvidos
se os pulmões ainda tivessem fôlego
e o suspiro estertor queima como chuva ácida..
Algo como um terremoto
treme o chão.
Passa às minhas pernas
dobra meus joelhos, aperta meu estômago
tomando minhas veias, corre pelo coração
invade os pulmões como a uma revolução armada...
e me faz, arauto do sofrimento,
gritar uma angústia de morte futura...
O grito de uma geração matricida...

Rafael Moura, 14/02/2009
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Now playing: Nile - As He Creates, So He Destroys
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Um Dia...


Um dia
Talvez eu possa respirar
O mesmo ar que vive a circular
Estes primos e primas que, a dançar,
Matam seus próprios filhos a agonizar

Um dia
Talvez eu possa compreender
Corações insadecidos, almas a arder
Penitências pagas com o chicote a bater
Lágrimas de ódio da face a escorrer

Um dia
Talvez eu possa sentir
O desejo imoral de tudo possuir
Que invade a mente , em vão, a resistir
E de toda a moral vem nos despir

Um dia
Talvez ser humano possa me considerar
Talvez normalmente poder viver
Talvez apenas como um zumbi poder existir

Rafael Moura, 26/01/2009
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Now playing: Anthony and the Johnsons - One Dove
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domingo, 25 de janeiro de 2009

Anthony and the Johnsons - The Crying Light

O novo disco do Anthony and the Johnsons, o The Crying Light, veio parar no meu HD por um ótimo acaso do destino. Estava a procurar algo sobre o novo disco do Andrew Bird e acabei me deparando com esta maravilha que é o The Crying Light.

Pretendo deixar aqui apenas umas impressões sobre as músicas que mais gostei, apesar do álbum inteiro ser muito bom. A Epilepsy is Dancing começa como uma alegre canção de verão, para mostrar-se uma poderosa música do meio pro fim. Não tem como não se arrepiar com a voz do Anthony no final desta música... O clipe também é muito bonito, com dançarinos vestidos de faunos e ninfas e tudo o mais...

A One Dove mostra-se, pra mim, a música mais bonita de todas. Não tem como não se derreter ao ouvir a melosa última estrofe. A letra também é de uma força dramática perfeita. "One dove To bring me some peace In starlight you came from the other side To offer me mercy". Há poucas pessoas que oferecem perdão, e esta música capta o quão este gesto é belo...

Os vocalizes da música Kiss My Name, confesso, me conquistaram... É aquele tipo de vocalize que gruda na mente e, quando menos se espera, você já está cantarolando junto com o Anthony. A 2ª voz nesta música também é muito bonita como, aliás, toda as 2ª vozes do cd.

As outras faixas do cd não ficam atrás em beleza ou dramaticidade. Em suma, é um disco para ser ouvido naqueles dias chuvosos em que não se está triste, mas deseja-se curtir um pouco a melancolia do clima...
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Now playing: Anthony and the Johnsons - Her Eyes Are Underneath the Ground
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Heresia amorosa...

Jacob Peter Gowy, A Queda de Ícaro

Poderia o Sol permitir
Que os mortais diretamente o olhassem?
Poderia a Lua consentir
Que os homens simplesmente a roubassem?

"Mortal impuro, sabe o que desejas?
Queres profanar tão perfeita criatura,
Queres aterrorizar àquela que cortejas,
Emudecer tua voz com tua feiúra?"

Qual Ícaro e suas asas de cera a voar,
Qual Apolo 11, descendo o solo lunar,
Ouso o risco de tua ira provocar,

Ouso o desejo de sua mão, de tua boca beijar,
Ouso a heresia de querer distâncias ultrapassar,
Ouso a esperança vã de poder te amar...

Rafael Moura, 23/01/09
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Now playing: Diamanda Gallas - Gloomy Sunday
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A sombra encobre
Corações e idéias
Ruas enchem-se de
Mariposas sem rosto
E os lixos amontoam-se
Como os sentimentos perdidos
Não, não que eu veja o futuro
Sou cego, não quero ver
É o presente
Agarro na corda e tento
Esquecer quem sou
Enquanto puxo a descarga

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cinco Modelos de "Adequação Individual"

1. Conformidade - Corresponde à resposta positiva, tanto aos fins como aos meios institucionais e, portanto, ao típico comportamento conformista. Uma massa de indivíduos constitui uma sociedade somente se a conformidade é a atitude típica que nela se encontra.
2. Inovação - Corresponde à adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios institucionais.
3. Ritualismo - Corresponde ao respeito somente formal aos meios institucionais, sem a persecução dos fins culturais.
4. Apatia - Corresponde à negação tanto dos fins culturais como dos meios institucionais.
5. Rebelião - Corresponde, não à simples negação dos fins e dos meios institucionais, mas à afirmação substitutiva de fins alternativos, mediante meios alternativos."

Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal - Alessandro Baratta

E então, onde vocês se encaixam? rsrsrss
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Now playing: The End Of All Reason - Ascending The Throne Once More
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Isso é o que dá ficar sozinho... =|

Me arrasto entre páginas
Rastejando por letras
Que não formam o seu nome
Formam algo incompreensível para mim
Ruídos em harmonia
Percorrem o ar até meus ouvidos
Nenhum deles parece ser sua voz
À força procuram entrar
Chamando a atenção para algo
Fora daquilo que chamo coração
Engraçado, logo hoje que todos
Os relógios pararam misteriosamente
Justamente o dia que
Resolvo te procurar por aí
Paro por um momento
E escuto a voz dos ventos
Eles me dizem que você está
A muitos anos-luz de distância
Como se eu nunca fosse te ver
E de você só tenho
O nome a dançar sob meus olhos
A voz a ecoar nos meus labirintos
E o suave cheiro trazido pelos ventos...

Rafael Moura, 19/01/2009

Saída do Inferno



Se, como dizia o escritor russo,
O inferno é incapacidade de amar
Entendo o porque da minha vida neste curso
Com enxofre e demônios a me rodear

Mas eis que às margens do Letes tortuoso
Vejo, qual miragem, belos olhos a brilhar
Eu, mortal vazio e desesperançoso
Com medo mortal, desvio o olhar

Será talvez Beatriz, anjo de luz e bondade,
Condoída desta pobre alma sofredora
Que, num ato gentil de caridade
Veio purificar tal alma pecadora?

"Tenho o nome da esposa terceira
De teu longínquo pai, o primeiro humano..."
Dizia ela, enquanto sorria de tal maneira
Que tive certeza de que isto só podia ser engano...

"...E, igual a ela, quero compartilhar contigo
Esperanças e dor, alegrias e pesar
Trago a ti, meu amado e amigo
Novamente a possibilidade de amar."

Rafael Moura, 20/12/2008
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Now playing: Edith Piaf - La Vie, L'amour
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Berserker




Espuma que escorre da boca
Fel que à garganta desce a queimar
A voz, por meio dos gritos, deixa rouca
Transforma o brilho dos olhos num faiscar

O grito que ecoa ao ar, lança-se forte
Trovão que anuncia tempestade de dor
Entrega-se, berserker, à sua sorte
Perde a esperança e o temor

Os olhos a enxergar a rubra cor
Focados à visão do tão odiado inimigo
A boca seca só reconhece um sabor:
Sangue, adversário ou amigo

Sangue e suor misturam-se na pele
Corpos movimentam-se ao calor da batalha
A besta, que todo traço humano repele
Fatia-nos a humanidade com uma navalha

E aos ouvidos, uma risada mistura-se às batidas
Ritmadas do coração e do ranger dos dentes
É aquele que, sempre presente e às escondidas
Guia, no cabresto, nossos atos mais doentes.

Rafael Moura, 20/12/2008
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Now playing: Tori Amos - Horses
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Mentes fortes x Mentes fracas

Estava ontem conversando com um colega, quando chegamos em um assunto peculiar: o de que, naturalmente, a mente forte domina a mente fraca, algo como ocorre com os animais e a força física na natureza. Ele comentava que estava a prosear com um típico exemplar do sexo feminino, um exemplar igual àquela da música do Gabriel O Pensador, apesar de imaginar que o espécime em estudo não era loira. Ele me mostrava, empiricamente, que a bendita manceba tinha um invejável poder de raciocínio, e obedecia a teus comandos como se hipnotizada estivesse.

Pois bem, a primeira vista, até pode parecer mesmo natural, mas ainda sim não me é normal. Afinal, somos humanos! Se isso de dominação é algo assim tão natural, então não há nada de errado em ditadores e déspotas, uma vez que eles são mentes evoluídas (não poderemos NUNCA dizer que Hitler não foi um homem sagaz e inteligente). É tipo o Raskolnikov, do romance Crime e Castigo, do escritor russo Dostoiévski. Pra quem não conhece a história, Raskolnikov era um estudante que criou uma teoria maluca: ele acreditava que algumas pessoas na sociedade tinham nascido predeterminadas a brilhar, a conduzir a humanidade um passo a frente, e que as outras existiam apenas para criar condições para estes "iluminados", seja como massa de manobra, seja com a própria vida, ou o que seja.

Apesar da enorme simpatia que nutro por esta opinião, ainda sim ela parece estranha. Sei lá, se isto é mesmo verdade, quem define quem é quem? E até onde é predeterminismo, e onde começa a influência histórico-social do meio nesta pessoa. Conheço várias pessoas extremamente inteligentes, mentes fortes, que estão tão contaminadas por pré-conceitos que aparentas fracas. Acho que isso tem muito mais a ver com o fato de que as pessoas não sabem o que fazer com suas liberdades (existencialismo) do que com um "jusnaturalismo" das mentes mais fortes. Apesar de ser idiota, ainda acredito na potencialidade da raça humana, independente de onde seja. Nós só somos sub-aproveitados.

Eu sei que "é difícil viver com a Visão por anos e se manter generoso com aqueles que preferem não ver", de modo que passamos a desclassificá-los como humanos. Mas ainda acredito que um dia as piriguetes e os putões do meu país também lerão Balthazar Gracian...

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Now playing: The Cure - Lovesong
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Somos sombra dos humanos que fomos antes




Cortinas de fumaça cobrem o futuro
Gás lacrimogênio entra em nossas narinas
A face da morte, pichada no muro
Indica o fim de nossas sinas

"Diga-me um ser humano
Que ame com todas as fibras do ser
E eu salvarei esse mundo tirano"
Dizia o algoz ao anoitecer

Olhos envergonhados e lacrimosos,
Sempre dissimulados em vida,
Mostravam corações desamorosos
Frutos de uma vida inteira ressentida.

"Acabe logo com este sofrimento
Sabes que entre nós não há mais amantes
Só narcisos, almas em busca do próprio alimento.
Somos sombra dos humanos que fomos antes."

Rafael Moura, 09/11/2008

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Now playing: Tori Amos - Spring Haze
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Tentativa de retorno, cena 2, tomada 7p

Bom, novamente uma tentativa de escrever periodicamente nisto aqui. Talvez eu faça disso um laboratório para meus textos de direito, ainda não sei bem...

Certa feita, uma amiga minha (Issa, eu te amo, mas não vamos casar algum dia, portanto, desista, ok? =D) me perguntou como podia uma pessoa como eu estar sozinho. Engraçado, nunca tinha me feito essa pergunta, mas ela ficou batendo na minha cabeça por um booom tempo.
Não sei se posso responder a ela, mas tenho alguns indícios do que pode ser algumas determinantes deste estranho fenômeno. Talvez o que mais influencie nisso seja o fato de que eu não consigo me focar em nada, sendo, portanto, um lago imenso e raso (hum, adorei a metáfora!). É difícil achar alguém que goste dos mesmo gostos que você quando você tem 50 gostos diferentes. Por exemplo: mesmo que eu encontrasse uma namorada roqueira, eu provavelmente não seria roqueiro o suficiente pra ela, e ela provavelmente não gostaria de música clássica e forró, como eu gosto. Sei que pode parecer estranho, mas isto explica muita coisa. Se as pessoas se aproximam pelas afinidades e se separam pelas diferenças, eu tenho iguais motivos para atrair e repelir todas as mulheres do mundo!

Talvez meu inerente afastamento com relação aos desconhecidos seja outro fator. Hoje eu tava vendo não sei quem falando que os gaúchos são pessoas extremamente bem humoradas, basta conhecê-las melhor. Acho então que não é só o sotaque que eu roubo dos gaúchos, de vez em quando. Muita gente faz um (pré)juízo por causa do meu modo de vestir, ou o ankh. E realmente, pensando bem, Don Juan não anda de ankh, nem fone de ouvidos. Acho que corrente e bigode de cobrador devem ajudar a resolver este problema! =D

Não sei, mas acho que certas coisas são para não serem. Talvez esse tópico tenha ficado mais com cara de desabafo do que com cara de análise minuciosa, mas tudo bem. Afinal, imparcialidade total sempre será impossível à raça humana...
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Now playing: Tori Amos - Suede
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Texto de Wagner Moura sobre a nossa televisão

Wagner Moura*
Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo "que coisa horrível" (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.
O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.
Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.
No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a "cagada" que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?

WAGNER MOURA é ator

Sábias palavras...

"A publicidade do processo penal, a qual corresponde não somente à idéia de controle popular sobre o modo de administrar a justiça, senão também, e mai profundamente, ao seu valor educativo, está, infelizmente, degenerada em um motivo de desordem. Não tanto o público que enche os tribunais a um limite inverossímil, mas a invasão da imprensa, que precede e persegue o processo com imprudente indiscrição e, não de raro descaramento, aos quais ninguém ousa reagir, tem destruído qualquer possibilidade de juntar-se com aqueles aos quais incumbe o tremendo dever de acusar, de defender, de julgar. As togas dos magistrados e dos advogados, assim, se perdem na multidão. São cada vez mais raros os juízes que têm a severidade necessária para reprimir essa desordem."

Franscesco Carnelutti - As Misérias do Processo Penal

E sinceramente eu não poderia ter escrito algo mais sensato...

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Now playing: Chico Buarque - Meu Caro Amigo
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O fim do processo penal

Eu me mostrava relutante em falar qualquer coisa sobre o tal caso Nardoni, mas diante do que vi hoje no bendito Jornal Nacional, achei interessante criar um esboço sobre o tema. Pra quem é leigo na área processual penal, não deve ser tão absurdo, mas estudando um pouquinho a matéria, podemos ver a torpeza que a mídia e as pessoas envolvidas tratam o caso. Sem desenvolver muito o tema, gostaria de abordar apenas dois dos inúmeros princípios penais e processuais penais que tiveram seu fim decretado pelo caso: o princípio da presunção de inocência e o sigilo processual.

O princípio da presunção da inocência diz em poucas palavras que ninguém pode ser considerado culpado até que se prove realmente a culpa. É o conhecido jargão popular "inocente até que se prove o contrário". Suas utilidades são óbvias: imagine se qualquer pessoa acusada de um crime já fosse considerada culpada? Imagine você, caro leitor, sendo vítima de uma denúncia anônima infundada, sem direito a se defender, sendo considerado culpado só por que alguém te acusou? Portanto, a presunção da inocência pressupõe um processo para que seja "conhecida" a "verdade real", aquilo que provavelmente aconteceu à luz das provas apresentadas e apreciadas em juízo, ou seja, em um processo e perante um juiz, um promotor e um advogado de defesa. Isto é justamente aquilo que não vemos em tal caso. Durante o inquérito policial, o INDICIADO (tem esta denominação justamente porque só existe INDÍCIOS do crime, não provas) é considerado inocente, não tendo nem sua certidão de antecedentes criminais suja. Mas o que se vê constantemente, pela mídia e pelo próprio promotor do caso, é a acusação escancarada e pré-concebida de que o pai e a madrasta são os culpados. Mesmo que eles sejam os verdadeiros culpados (não estou aqui entrando nessa discussão), quem vai decidir isto é o juiz e o júri popular, depois de muita discussão, debates e quiprocós! Não cabe à mídia dizer que "Foram Eles", como a "insigne" revista Veja fez em uma de suas capas. Quero saber quantas pessoas aqui gostariam de ser condenadas sem ao menos ter um julgamento digno...

Com relação ao sigilo processual, este deriva naturalmente do princípio da presunção da inocência. Ora, se você não pode dizer que uma pessoa é culpada sem antes ter um processo, como você vai divulgar documentos que a acusem, se você não sabe que ela é culpada? É LÓGICO que a imagem da pessoa estará manchada pro resto da vida, mesmo que ela consiga provar sua inocência. Imaginem vocês sendo indiciados por um processo, neste caso, vocês não estão sendo acusados de nada, é apenas uma averiguação para saber quem teve a ver com o crime. Chega um repórter e diz a todos que você foi o culpado do crime, sem saber de nada do que aconteceu, e espalha isso para toda a cidade. Mesmo que você nunca chegue a ser processado e condenado, a reprovação da sociedade já vai cair toda em cima de você, uma vez que tal repórter disse que você era culpado. Não vejo alguém que se sinta confortável com uma coisa dessas. O sigilo da vida pessoal de um indivíduo deve ser respeitado a todo custo, sendo quebrado apenas em casos expressos em lei. Até pra fazer uma escuta telefônica, a polícia precisa da autorização de um juiz, quanto mais divulgar INTEGRALMENTE o depoimento de um indiciado! Não vejo qualquer interesse público aqui, quanto mais um interesse que motive a liberação dos depoimentos do casal a um repórter da grande Rede Globo. Vejo somente o interesse da grande mídia em fazer mais alarde em cima do caso.

Acho que todos os que lerão este texto terão em mente que estes princípios que citei não são só invenções de advogado maluco ou juiz biruta, e sim que eles têm uma razão de existir, que é impedir que se faça injustiça a todos, culpados ou inocentes. Por isto mesmo, deveriam ser respeitados, e defendidos por todos, especialmente quando se refere a um inquérito policial, já que não precisa ter cometido um crime para que a pessoa possa ser indiciada. Portanto, é inadmissível o que estão fazendo neste caso Nardoni, seja a imprensa, que mostra-se despreocupada com as pessoas envolvidas no processo - o próprio casal, a família deles, os filhos, amigos -, vende a torto e a direito a intimidade e a vida de pessoas (meu Deus, são PESSOAS ali!), seja o promotor, que joga fora seu título e integridade para fazer a vontade desta mídia, seja a polícia, que vende-se na esperança de conseguir seus 15 minutos de fama ou seu famoso "pé de meia"...

Ps.: Domingo, dia 27, eu pude ver uma das poucas vozes sensatas na imprensa brasileira. Datena, no Brasil Urgente Especial, falando que não podia nem dizer sua opinião sobre o caso, pois sabia ser um repórter, cujo único trabalho era informar, não criar opinião pública.Gostaria aqui de parabenizar o apresentador pela postura corretíssima adotada, mesmo que ele não venha a ter conhecimento destas palavras.
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Now playing: Gotan Project - Santa Maria (Del Buen Ayre)
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Olhos Indiferentes

olhos_negros

A respiração forte indica

O que se passa pela cabeça descontrolada.

O coração que sacrifica

Últimas lembranças da vida amada.

Pensamentos giram ao redor da mente,

Antes de estuprá-la aos milhares.

A pele não mais normalmente sente...

Os olhos indiferentes aos olhares...

Um grito incontrolável escapa da boca,

Enchendo o ar ao redor de ódio.

Deixando a cavidade toráxica vazia e oca

E, por um segundo, inebriando como ópio...

As unhas rasgam a carne como quem rasga

O Normal, que tenta iludir os olhos todos...

A espuma, filha da Febre, quase engasga,

Assustando os mais tolos...

A Visão que pulsa atrás da retina

É a mesma que afasta teus "iguais"...

E a verdade, velha e querida assassina

É que inteiro tu novamente será jamais!

Rafael Moura, 17 de fevereiro de 2008

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Now playing: eths-7 animadversion
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Alguém querido...



Abro os olhos.
A luz do sol indica mais um dia,
E a lembrança de um sorriso
Me arranca um sorriso da face.
O barulho da rua ecoa
Pelo quarto, como em uma caixa.
Mas pelo ar flutua um só nome.
Nome de princesa, nome de menina.
As letras dos livros ganham vida,
Dançam em frente aos olhos.
Formam curvas, silhueta da dama.
Formam rostos, todos duma só...
A luz ligada, para melhor ver,
Acaba por enganar ainda mais.
Se transforma em brilhantes olhos
Fechados, do sorriso que escapa da boa.
Quando cai a noite, o silêncio
Inunda os ouvidos como enchente.
Os ouvidos, já acostumados,
Têm a impressão de ouvir
A voz de alguém distante.
Alguém querida e amada,
Alguém que é impossível esquecer...

Rafael Moura, 10/01/2008

Difícil tentar esquecer qualquer coisa assim, não?
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Now playing: iLiKETRAiNS - Spencer Perceval
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Assim...



E foi assim...
Um estalo, um barulho
E a gente se dá conta
De que falta algo
Que já tinha sumido
A muito mais tempo
A gente percebe o coração
Bate normal, cadenciado
Não mais freneticamente como era
A respiração não mais ataca
E o suor não mais desce pela face
Aqueles olhos tão brilhantes
Já não nos trazem a morte
E o sorriso bonito,
Antes portões do céu,
É apenas um sorriso bonito
Sem aviso prévio
Sem a dor que tanto insistia
Durante o processo final
Sem nada mais, só o vazio
E a sensação de que
Um sentimento acabou de acabar...

Rafael Moura, 05/01/08


Engraçado, não queria algo assim no primeiro posto do ano, mas creio que não há coisa melhor no ano novo do que esquecer as coisas do ano passado e recomeçar do zero. Mesmo que doa, mesmo que não queiramos, é necessária a renovação, savvy? Dou graças a Deus, à pessoa que eu queria esquecer e a uma amiga minha que me ajudou a ver que eu poderia... Thanks, folks!

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Now playing: iLiKETRAiNS - The Deception
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Abandono






Acho que estou ficando velho. Já não posso contar minha idade mais nos dedos, como as crianças fazem, mesmo que eu use os dedos dos pés. Já não posso ficar mais que 4 dias sem fazer a barba, como fazia quando era mais jovem, e queria mostrar aos outros que eu tinha barba (ainda que rala, ainda que escassa). Já não posso mais ficar sem celular, antes que metade dos meus conhecidos comecem a reclamar. Já não gravo mais desenhos animados para assistir quando chegasse da rua. Aliás, até mesmo fita de vídeo está fora de moda. Até mesmo o romantismo está fora de moda...

Até tento aceitar as modernidades. Tenho um celular que tira foto. Tenho um mp3. Tenho Orkut, MySpace, Msn. Tento procurar algo que queira comprar na net antes, e na rua depois. Tenho vários 'amigos' virtuais, muitos destes que eu nunca vou poder conhecer pessoalmente. Mas ainda assim acho que estou ficando velho. Não entendo certas coisas. Não entendo qual o prazer entre ficar o dia todo na internet, do que poder visitar os amigos pessoalmente, rir pessoalmente, tomar café (hum!) pessoalmente. Não entendo como as pessoas podem resumir suas vidas em uma tela de computador. Não entendo e acho que nunca vou entender no que se transformou as relações hoje em dia. Não entendo como uma pessoa pode gostar de duas ou mais pessoas. Como uma pessoa pode ficar com várias pessoas e gostar de todas. Eu já acho tão complicado gostar de uma pessoa só, quanto mais gostar de várias. A sensação que deixa é a de que não se consegue gostar de nenhuma. É, acho que estou ficando realmente velho, não entendo o que é ficar...

A vontade que dá é a de largar tudo e voltar ao campo. Acho que em certa parte entendo meu pai, quando ele diz que assim que eu me formar, ele me larga aqui e volta para a cidade dele, de nome Teofilândia e vida tão monótona quanto o nome da cidade. A vontade é de deixar-se abandonar ao tempo, não tentar acompanhá-lo, aceitar que me perdi entre alguma parte dele. É interessante, por que isto prova que os imortais não ficam só com seus corpos do mesmo jeito que era na morte, mas suas mentes não acompanham a 'evolução', permanecendo na mesma época em que morreram... É, acho que realmente prefiro viver meus eternos anos 90...
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Now playing: Joy Wants Eternity - Uriel
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Sozinho

Sozinho
Por entre árvores retorcidas
Vidas mal-vividas
E telas repartidas

Sozinho
Por entre alguns viventes
Muitos zumbis indecentes
E uns poucos corações carentes

Sozinho
Por entre avenidas lotadas
Por entre vidas atacadas
Por entre pessoas desalmadas

Sozinho
Apesar de companhia de muitos
Apesar da amizade de poucos
Apesar do quase-amor de alguns

Sozinho
Ultimo de uma geração
Dono de um pensamento vão
Talvez, dentre todos, o único são

Sozinho
A procura de companhias
Talvez até algumas alegrias
Mas com o pouco cheio de agonias

Rafael Moura, 09/12/07


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Now playing: Adriana Calcanhoto - Inverno
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Pedimos o que tivemos...

Pedimos o que tivemos...

Sei que não sou o único
Milhares da minha espécie
Povoam as noites mundo afora
Mas olho pela janela lateral
E nada me faz sentir em casa
Sou um perdido em meio
A um comercial de cereais.
Não sei sobre céu ou inferno
Mas se inferno realmente existe
Já tenho noção de como é.
Se a verdade é que o amor
É a doce chuva que cai do Único Acima
Então realmente ela nos foi negada.
Seres crescidos por entre as sombras,
Nossa espécie não mostra
Qualquer capacidade para beber
De tal chuva.
Lembra? Beberemos sangue,
Comeremos cinzas duma terra
Encharcada por nossas lágrimas.
E talvez cinqüenta, quinhentos anos,
Até que entendamos que
Não tinha nada a ver com destino.
Nós mesmo, por sermos o que somos,
Pedimos o que tivemos...

Rafael Moura, 02/11/07

(Por que às vezes é complicado ser sozinho...)

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Now playing: Protest the Hero - Blindfolds Aside
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Querer Demais

Querer Demais


Um suspiro, um beijo, um abraço
E eu soube que eu te perdi
Mas nada que faça ao acaso
Retornará o que eu senti

De repente a luz esvaiu-se
De repente, não mais do que repente
E tudo aquilo o que a gente sente
Se esvai em poeira de sonhos

Mesmo sem saber o que fazer
Eu sabia o que queria, o que eu faria
Se pudesse te ter pra sempre
Se ficasse ao seu lado daqui pra frente

Mas talvez fosse querer demais
Algo que você não queria que desse certo
O incerto era algo que a gente mesmo criava
Agora só a certeza de um futuro comum...


Rafael Moura

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Now playing: Jay Vaquer - Noutro Caminho
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foto: José Afonso.

Tiro no Pé




Sabe quando tudo está indo certo pra ti, quando todos os planetas estão alinhados de maneira que tudo vai caminhando pra perfeição? Você olha pra sua família, seus amigos, sua namorada/mulher/noiva, olha pra seu trabalho/estudos e percebe que tudo está indo bem? Absolutamente tudo. Nada pode dar errado. Podia.

De repente, não mais que de repente, o estalo. O cheiro de pólvora chega antes ao cérebro que a dor, uma vez que a embriaguez da felicidade entorpece os nervos da dor. Você institivamente olha pro chão, e vê uma poça de sangue. O que era pra ser teu sapato agora parece mais uma peneira ou um queijo suiço. Pedaços de teu pé e as pedras do chão se confundem num vermelho sangue vívido. Sim, garoto. Você deu um belo tiro no pé...

O problema é que a dor não atinge só você. Ela dói em outra pessoa também, talvez até mais do que em você mesmo. Uma pessoa que você gosta agora sente uma dor enorme por causa de sua magnífica perícia com armas. O que fazer? Talvez tentar deixar a poeira baixar, talvez tentar curar teu pé e a dor da outra pessoa. Talvez...

O mais foda é saber que nada do que você fizer vai restaurar teu pé perfeito do jeito que era...

Poema Bobo




Poema “Bobo”

Não serão só sorrisos
Serão sorrisos velhos, novos, antigos
Sorrisos de amizade, e de mais que amigos
Sorrisos escancarados ou escondidos


Não serão só abraços
Serão aconchegos, encostadas e amassos
Abraços de tristeza em poucos casos
Mas de alegria na maior parte, daquelas que preenchem todos os espaços


Não serão só olhares
Serão olhares de carinho e cumplicidade aos milhares
Como milhares de afagos, gestos de amores
Abrindo nossos sorrisos em todos os lugares


Não serão só beijos
Serão declarações de amor, de desejos
Ardentes como fogo, rápidos como lampejos
Francos como um beijo roubado, ou escondendo mil ensejos


E não será só alegria, enfim
Será a alegria plena, uma criança num campo de jasmim
Alegria grande, besta e boba, com enormes sorrisos de marfim
A mesma alegria que sinto contigo perto de mim


Rafael Moura, 22/08/07

Irmãos das Almas

Irmãos das Almas

Por que estragar a própria vida é um direito inalienável
Estou no meu direito, minha vontade
Por que não sentar em uma poltrona
E esperar a morte chegar?
Seria bem menos hipócrita do que são
Estes morto-vivos risonhos...
Seria melhor que viver nesse show de Trumam
Sendo que no caso, é o show de José, ou Severino
E esse show é muito mais cruel...
Os irmãos das almas revezam no peso
E no papel de morto também
Mas, afinal, o que são esses vampiros
Com máscaras de teatro grego?
Somos nós, que nos alimentamos dos outros mortais,
Nos vangloriando de nossa espécie
E fingindo o tanto quanto podemos
Rafael Moura



Homem Sentado, pintura de Augusto Gomes, pintor português

Cainita

Cainita

Os últimos raios de sol invadem o quarto
Atravessam as cortinas e incidem no chão
Tão fracos que não me ferem, tão pouco dissipam a escuridão.
Feroz combustível, que aperta o coração como um infarto.

Olho a lua, sempre presente nesta vida,
Companheira e confidente dos crimes cometidos.
Às vezes até se esconde, penosa dos condoídos,
Que sucumbiram face a essa minha face abatida.

Sim, são muitos. Negar não posso.
Um rebanho que sucumbe ao golpe do carrasco.
Alguns com piedade, raiva ou asco,
Mas nunca houve tempo pra remorso.

São minha vida, meu alimento, meu santo pão.
Rio de sangue a saciar uma sede que não tem fim.
Indiscriminadamente, cor de ébano ou brilho de marfim,
Acabo com suas vidas e causo minha destruição.

Essa é nossa sina, destino da besta que nos habita.
Mortes, sofrimentos, dor e sangue que não acaba,
Pactos, inimigos, serpentes, maldições e caballa,
Enfeitam a trama banal vã do cainita.

Rafael Moura

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Now playing: Regina Spektor - The Flowers
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Excitação

Excitação. Não aquele estado de desejo sexual. Aquela sensação de adentrar no desconhecido, aquele frio na barriga por fazer alguma coisa arriscada, que você não sabe se vai dar certo ou não, mas que mesmo assim você adora fazer! Aquela euforia de sentir tudo o que não sentia a anos (4, mais precisamente). A certeza de que o coração, apesar da aparência de morto, ainda vive. Vive e está mais bobo do que nunca. "Coração bobo, coração bola, coração balão, coração de São João", que nem na música do Geraldo Azevedo! A vontade de pular, gritar, chamar à dança! Sim, a vontade de abraçar, de ficar muito tempo abraçado...

É nessa hora que você percebe que o homem é apenas uma criança maquiada. Ou, no caso, um adolescente apaixonado. De nada adiantam os livros de Dostoiévski, as finas (ou nem tão finas) ironias de Nietzsche, os poemas de Drummond, de nada valem as teorias de Kelsen, os ensinamentos de Reale ou as palavras de Foulcault, quando o coração deseja mesmo é arrebentar o peito, é sorrir como uma criança comendo uma barra de Chocolate (Hershey's, de preferência)! Ainda somos os mesmos, e é isso que vale a pena. Por que os fingimentos, aquela sensação de seguir todos os planos, fria e meticulosamente, quando podemos viver, e pagar pra ver no que vai dar? Por que andar pisando em ovos, analisando todos os passos, pensando em todas as alternativas, tentando não cometer "erros", quando podemos simplesmente tentar sorrir, e fazer sorrir?

Sei que tem muito mais do que queria nesse recado, sei também que muita gente pode não entender, por ser ele pessoal em demasia. Mas acho que não há uma pessoa que leia estas linhas que não tenha sentido essas sensações um dia na vida! Basta lembrar do primeiro beijo, do primeiro salário, ou do primeiro milhão...

A Lenda dos Vampiros

"Por onde começar? Do assunto que falaremos, os séculos já viram muita tinta ser derramada." (Vampiro: A Máscara, 2ª Edição).






Eles estão presentes em várias histórias, desde as antigas lendas européias do começo da Idade Média até hoje em dia, nos cinemas, livros e jogos. Apesar de variar de poderes, aparências, formas de criação e morte, eles continuam com uma essência encontrada em todos os relatos. Apesar de mais de 3 séculos da criação do Iluminismo e da glorificação da razão, eles continuam enfeitando as nossas fantasias. O medo inicial dos camponeses e crianças dos séculos passados, passando ao ódio dos Inquisitores, à descrença dos pensadores e homens das ciências dos séculos contemporâneos, eles sempre produziram sentimentos em nós. Falamos dos vampiros, dos sanguessugas, dos demônios bebedores de sangue, os inccubu, os succubu.

O interessante é que, apesar de ser uma lenda antiga, os vampiros até hoje nos fascinam. Por que? Se repararmos bem, eles ainda tem formas humanas, portanto, isso já indica uma certa identificação com nós mesmos. Diferente dos lobisomens e dos ET's, os vampiros são os seres sobrenaturais que mais se parecem conosco. O aspecto visual pode ser um ponto de partida. Eles também são humanos, no sentido de que eles também têm sentimentos e desejos. Afinal, foi uma paixão que levou o Conde Dracula à morte (quem assistiu o filme lembra que ele se apaixonou pela criatura, mas infelizmente ela tinha um 'herói' entre seus contatos do orkut). Louis e Lestat, famosos vampiros, também eram indivíduos extremamente temperamentais. Apesar de terem o poder de matar indistintamente, eles ainda sim eram alvos de constantes ciúmes, invejas e outras picuinhas. Diferente dos outros seres, que simplesmente são amaldiçoados, ou são robôs sem coração ou extraterrestres que acham que devemos morrer, os vampiros desejam quase o mesmo que nós. Como não se identificar com um cara que têm problemas de relacionamento com o pai (Louis 'vivia' brigando com Lestat, seu progenitor), quando a maioria dos jovens também têm os mesmos problemas?




Um terceiro ponto importante é a imortalidade vampírica. Desde que o homem é homem, ele procura uma maneira de driblar a morte. Nem que seja vendendo a alma para o Diabo. A longevidade dos vampiros é realmente um atrativo aos 'mortais'. Quem não queria viver 200, 300 anos? Quem não queria ser imune às balas e facas dos perigos que espreitam as cidades de hoje? Quem não gostaria de poder perder um braço e acordar com o braço regenerado no dia (na noite, mais precisamente) seguinte? Isso nos leva ao quarto ponto, intimamente ligado ao terceiro: os poderes sobrenaturais. Pular distâncias que fariam inveja a qualquer medalhista olímpico (ou do Pan, já que é moda!), levantar inimigos como quem levanta uma criança, ouvir sussuros conspiradores do outro lado de uma sala lotada e barulhenta, fazer com que aquela gata finalmente ceda aos seus suplícios ou fazer com que seu chefe comece a agir como uma galinha... As possibilidades seriam imensas! Quem nunca quis ser o Super-Homem? Bom, antes mesmo do Super-Homem ser inventado, muito gente já bebia sangue, pra ver se virava vampiro também!

A bem da verdade, quase todo mundo esquece os pontos negativos do vampiro - a saber: a perda da alma, a impossibilidade de ver o sol, a necessidade de matar para sobreviver, etc. -, fascinados pelas vantagens. No fundo, os vampiros são apenas um reflexo de parte da personalidade dos próprios homens. Acima de tudo, um vampiro é tudo o que queríamos ser: eternamente jovens, imortais, potentes e caprichosos. Estudar os vampiros pode ser uma forma de estudar a nós mesmos. Quem nunca teve vontade de ter para si algo que não podia, como o Conde Dracula do livro de Bram Stoker? Ou quem nunca esteve no empasse de fazer a coisa certa ou fazer o que mais desejava, como Louis, o vampiro atormentado do livro Entrevista com o Vampiro (que depois foi adaptado para filme, com atuações de Antonio Banderas, Brad Pitt, Tom Crouse, e outros. Se você não assistiu, assista!), da Anne Rice? Quem nunca desejou ser bestial e destruir tudo o que visse pela frente, como Kiefer Sutherland (sim, ele mesmo, de 24 horas) em Os Garotos Perdidos, filme de 1987?

Portanto, fique esperto: não se assuste ao ver um vampiro chorando sangue e se lembrar que, assim como eles, você também chora!

Collide

Bom, retornando o projeto desse bendito espaço...
Deu vontade de escrever de novo!!!
Passando aqui pra falar sobre uma banda que eu acabei de descobrir, baixei hoje o cd. A banda se chama Collide, e o nome do cd é Chasing The Ghost (Perseguindo o Fantasma, ou algo parecido, em bom e velho Pt-Br). Baixei por que estava num blog que eu sempre procuro novidades de Trip-Hop e Downtempo, o http://triphopx.blogspot.com/. Lá estava definido como Gothic/Trip-Hop. Na verdade é um industrial misturado com certos elementos do Trip. A 1ª música, Transfer, foi a que me chamou mais atenção até agora. Muito bom pra quem curte um clima mais sombrio, perfeito pra festas noturnas, sessões de Vampiro: A Máscara, ou pra tentar seduzir alguém! Aí vai o link do álbum: http://rapidshare.com/files/44946030/C_o__l_l_i_d__e_-_C_h_a_s_i_n__g____Th_e_Gh_ost_b_y__f_a_u_s_t__us__triphopx.blogspot..rar
Enjoy!