sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Se's
Se houvesse algo para distrair este coração
Se as horas distantes fossem normais
Se as horas distantes fossem de paz
Se pudesse dizer que sem ela estou bem
Se, mesmo com a distância, eu fosse alguém
Se não sonhasse a cada hora com seu sorriso
Se pudesse dizer que ela não é o que eu preciso
Longe de meu coração desejar a maldade
Essas hipóteses nunca haverão de vingar
Esses se's continuarão a serem suposições, não verdade.
Em meu peito, eles são motivos para me alegrar
São provas de que, quanto maior a saudade
Muito maior meu pesar e por ela meu amar.
Rafael Moura, 18/12/2009
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Now playing: Betwen The Buried And Me - Mirrors
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Solano Trindade
Esse pernambucano conquistou prêmios internacionais e, apesar de ter divulgado o nome do Brasil no exterior, acabou esquecido: morreu como indigente, num hospital do Rio de Janeiro. Hoje, quase ninguém mais fala desse filho de um humilde sapateiro do bairro de São José que viveu para cantar a sua gente.
Poeta, cineasta, pintor, homem de teatro e um dos maiores animadores culturais brasileiros do seu tempo, o pernambucano Francisco Solano Trindade foi, para vários críticos, o criador da poesia "assumidamente negra" no Brasil. Premiado no exterior, elogiado por celebridades como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet e tantos outros, o negro (e pobre) escritor recifense está hoje completamente esquecido, apesar de tudo o que fez pela cultura e pelas artes do País. Para se ter uma idéia da importância do poeta, que era filho de um humilde sapateiro do bairro de São José, basta uma rápida reconstituição de sua biografia.
Depois que deixou o Recife e fixou residência no Rio de Janeiro, Solano Trindade foi o idealizador do I Congresso Afro-Brasileiro e, anos mais tarde (1945), criou, com Abadias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro. Depois (1950), concretizou um dos seus grandes sonhos, fundando, com opoio do sociólogo Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro (TPB). Em 1955 criou o Brasiliana, grupo de dança brasileira que bateu recorde de apresentações no exterior. No teatro, foi Solano Trindade quem primeiro encenou (1956) a peça "Orfeu", de Vinícuis de Morais, depois transformada em filme pelo francês Marcel Cammus.
Mas a biografia de Solano Trindade não pára por aí. Em São Paulo, onde o TPB empolgou platéias no Teatro Municipal, foi ele quem transformou a cidade de Embu num centro cultural onde dezenas de artistas passaram a viver da arte. No exterior (Praga), realizou o documentário "Brasil Dança". Como ator, trabalhou nos filmes "Agulha no Palheiro", "Mistérios da Ilha de Vênus" e "Santo Milagroso". E mais: foi co-produtor do filme "Magia Verde", premiado em Cannes. Na literatura, Solano estreou em 1944, com "Poemas de uma Vida Simples" e publiou ainda outros dois livros: "Seis Tempos de Poesia" (1958) e "Cantares ao Meu Povo" (1961).
Enquanto atuou na vida cultural brasileira, Solano Trindade ("esse genial poeta", na classificação de Carlos Drummond de Andrede) recebeu os maiores elogios da crítica. Seu livro de estréia, por exemplo, foi classificado por Otto Maria Carpeaux como "uma pequena preciosidade". Tinham opinião semelhante sobre a sua poesia, nomes de peso como Afonso Schmidt, Roger Bastides, Fernando Góes, Arthur Ramos e Nestor de Holanda. Já o trabalho do Teatro Experimental do Negro (TEN) foi, segundo Darcy Ribeiro, "um núcleo ativo de conscientização dos negros, para assumirem orgulhosamente sua identidade e lutar contra a discriminação".
Aliás, todo o trabalho de Solano Trindade (quer no teatro, dança, cinema ou literatura) tinha como características marcantes o resgate da arte popular e, sobretudo, a luta em prol da independência cultural do negro no Brasil. A ponto de Sérgio Milliet chegar a escrever que "poucos fizeram tanto quanto ele pelo ideal de valorização do negro em nossa terra". Estaria aí uma razão para o seu esquecimento? Fica a pergunta. O certo é que, durante a estréia no Rio, em maio de 1945, o TEN sofreu violentos ataques dos conservadores. Em editorial, o jornal O Globo chegou a afirmar que se tratava de "um grupo palmarista tentando criar um problema artificial no País".
Solano Trindade nasceu no Recife a 24 de julho de 1908. Aqui, criou em 1932 a Frente Negra Pernambucana, mas o movimento não vingou. Enquanto viveu no eixo Rio-São Paulo, ao mesmo tempo em que sua obra ganhava fama entre a crítica nacional e repercussões no exterior, nunca deixou de realizar oficinas para operários, estudandes e desempregados. Em 1944, por conta do poema Tem Gente com Fome, foi preso e teve o livro "Poemas de uma Vida Simples" apreendido. Em 1964, um dos seus quatro filhos (Francisco) morreu numa prisão da didatura militar. A 20/02/ 1974, Solano Trindade morreu como indigente, num hospital no Rio de Janeiro.
Um das poucas tentativas de trazer de volta o nome de Solano Trindade para o grande público ocorreu entre 1975, quando o poema Tem Gente com Fome iria integrar o disco dos Secos & Molhados. Mas, como explicou João Ricardo (que musicou o poema), problemas com a censura impediram a gravação. Só na década de 80, Ney Matogrosso gravaria a canção. Além disso, em 1976 a escola-de-samba Vai-Vai, do Bexiga, São Paulo, desfilou no carnaval com o enredo em homenagem ao poeta. E ano passado uma pequena editora (a Cantos e Prantos, SP), reuniu a obra do poeta no volume
"Solano Trindade - O Poeta do Povo".
O lançamento do livro no Recife estava programado para julho de 2000, numa iniciativa de uma filha de Solano Trindade que viria do Rio de Janeiro especificamente com esse objetivo. Mas, em decorrência das limitações estruturais da editora, o lançamento não ocorreu e a edição está longe de constituir um justo resgate da obra do escritor que dedicou toda a vida ao estudo sério e aprofundado da cultura negra e, um dia, declarou: "A minha poesia continuará com o estilo do nosso populário, buscando no negro o ritmo, no povo em geral as reivindicações sociais e políticas e nas mulheres, em particular, o amor. Deixem-me amar a tudo e a todos".
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Oração
Eterna lua, globo de marfim
Eterno sol, luz incandescente
Eterna Terra, hoje já decadente
Eternos rios, eternos mares
Eternos gelos não mais eternos
Eternos átomos que preenchem os ares
Eternas estações, eternos ares primaveros
E também Tu, Único Acima
Vós todos que do tempo são senhores
Apesar de toda esta parca rima
Concedei-nos a força de todos os amores
Concedei-nos o fogo eterno que anima
Um amor para sempre, simples, sem temores
Rafael Moura, 18/11/09
Era pra ser uma oração, não gostei muito do que acabou surgindo...
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Now playing: No Consequence - Age Of Fear
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domingo, 15 de novembro de 2009
Selinho
Ganhei esse selo da Andressa Pereira. Ainda não sei muito bem o que fazer com ele (eu e meus conhecimentos atualizadíssimos da blogsfera). Nway...
As regras são dizer coisas que começam com:
2) - Eu nunca... consegui entender porque as mulheres sempre preferem os cafajestes;
5) - Eu sonho... em fazer a Eva sempre feliz.
E.. indicar para 5 blogs.
Nway, vou indicar cinco blogs que acho legais:
1) Miríade - Mil em Uma
2) Poemblog
3) Morro Guarda-Chuva
4) Falando de Fantasia
5) Neuróticos Modernos - Filosofia Mequetrefe
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Longe de Ti
Longe de teus ouvidos
Todo som emudece, vira vibração inaudível no ar
Toda palavra pronunciada parece carecer de sentido
Toda jura de amor perde o motivo
Longe de tua pele
Todas as mãos atrofiam, todas estão sujas
Todos os toques tocam o espaço, o vazio
Todas as unhas arranham nosso próprio coração
Longe de teu cheiro
Todos os narizes estão onde não foram chamados
Todos os perfumes exalam choro e morte
Todos os cheiros lembram tua pele
Longe do teu brilho
Todos os dias são breu, sao piche
Todos os sóis são substitutos falhos
Todas as estrelas choram tua falta
Longe dos teus olhos
O mundo, cego, deixaria de aparecer
Lágrimas escorreriam dos meus olhos
Meu sorriso perderia o brilho pouco que tem
Longe dos teus sorrisos
Tudo o mais não faria sentido
Nenhum batimento, nenhum suspiro
Não existiria nada para chamar de Eu...
Rafael Moura
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
(Só)Mente sem Paciência
Os nervos ligam-se a músculos diferentes.
Ossos disformes não se encaixam com perfeição,
A respiração segue um ritmo que não é nosso...
Que mão é essa no lugar de nossa antiga mão?
Quem é esse rosto no meu rosto?
Pulsos de voltagens diferentes dançam
Por entre neurônios alienígenas...
O estômago, também diferente, embrulha-se
perante a resposta do espelho à frente.
Pernas que nos levam a lugares estranhos,
Pensamentos que nos levam a lugares estranhos.
Enquanto o coração, único que é o mesmo,
Perde a paciência consigo mesmo...
Rafael Moura, 13/10/2009
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Now playing: Mypollux - Aux Ames
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quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O erro de confudir causa e conseqüência
Não consigo ler estas linhas sem pensar na questão da (falta de) segurança no mundo (não só no país). Infelizmente, o que circula na feira é que a falta de segurança por parte do governo e a "falta de humanidade" por parte dos criminosos é culpa da insegurança que permeia a sociedade. Mães perguntam-se "onde esse mundo vai parar, meu Deus?", enquanto pais economizam para colocar mais grades e cadeados nas janelas. Como todo bode expiatório ao longo da história, os marginalizados sempre acabam pagando com a vida pela culpa dos outros. Aquele rapaz de 14 anos que serve como aviãozinho não é a causa. Aquele homem de 43 anos que coloca uma arma na cintura e vai esperar algum aposentado sair do banco não é a causa. A moça bonita que usa sua beleza pra ludibriar o guarda do condomínio enquanto outros 8 entram no prédio não é a causa. Estas "causas" são a causa da verdadeira causa não ser descoberta (e haja causa!). Enquanto pensarmos nestes fenômenos como causa imediata, e não como conseqüência, as verdadeiras causas continuarão camufladas, bem como querem os que se beneficiam com a situação.
Entendo que é mais fácil achar uma boa desculpa do que pensar nas causas. Entendo que é mais fácil ainda quando a desculpa nos é dada diariamente, pelos formadores de opinião. Mas enquanto não "descobrirmos" que aquilo que achamos que é a causa na verdade é a conseqüência, nenhum dos problemas, especialmente o de segurança pública, será resolvido. É o mesmo que querer acabar com um formigueiro matando as formigas que estão no doce. Infelizmente, a formiga rainha está em todos nós.
Rafael Moura, 30/09/2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A Distância de Tudo
Longe das seges apressadas
Longe dos bailes, longe das liras
Longe das líricas notas afinadas
Longe dos amores, longe das iras
Longe das estrelas e seu brilho fraco
Longe da névoa sombria ao luar
Longe da vida e seu brilho opaco
Longe da terra e seu brilho vulgar
Longe de todo cotidiano mortal
Longe da alegria, absinto que alucina
Longe de todo bem, distante de todo mal
Longe de todo sopro saído da boca divina
Incompleto, inerte, boneco carnal
Longe da minha metade mais menina
Rafael Moura, 28/09/09
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Now playing: Coralie Clément - L'enfer
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Tu, de Maiakósvki
Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhoritas exclamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
Derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu de júbilo
Esqueci o jugo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve,
tão bem me sentia."
Maiakósvki
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
O Apaixonado
"O Apaixonado
Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura."
Jorge Luis Borges
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Now playing: 20 Yann Tiersen - La valse des monstres
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segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Os Teus Sorrisos
Como quem nada quer, estica-os como a um arco,
prepara-se para ser solto ao ar.
Os lábios, antes castigados e mordidos,
Agora mexem-se com desenvoltura de ginasta.
Brilhos de fogos de artifício surgem,
Fugindo preguiçosamente dos lábios entreabertos.
Montanhas róseas movem-se como por milagre,
Enquanto um Maomé incrédulo agradece a Allah
Por tal paraíso que abre-se à sua frente.
Os olhos afiam-se, semicerrados,
Prontos a partir ao meio qualquer coração incauto.
Linhas formam-se e avolumam-se ao redor,
Arautos da majestade que virá.
E eis que os lábios, antes uma só linha,
dividem-se, fazendo uma curvatura improvável,
a curva da abóbada celeste.
Semelhante ao arco, a vibração faz tremer.
Porém, tremem de arrepios aqueles que o viram.
Ele lança-se ao ar, irresponsável e cativante,
Explodindo no ar como chuva torrencial,
Encharcando meu coração de alegria...
Rafael Moura, 10/08/2009
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Now playing: Ingrid Michaelson - The Way I Am
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terça-feira, 17 de março de 2009
O Eco dos Passos
Os passos dele ressoam no salão.
Em meio a milhões de vozes, ele está sozinho.
Como um médico que grita por sanidade
numa casa de loucos...
O guarda-chuva sustenta o corpo,
a chuva de lágrimas e o coração em chamas.
Os sentimentos, fios de chumbo,
que nem as pernas de aço sustentariam...
Os saltos dela vencem os degraus de acesso.
A porta abre-se para tão grande coração passar.
Os cabelos e o vestido, num ritmo uniforme,
balançam corações e desejos...
As flores junto ao peito tentam, em vão,
calar um grito que insiste em ecoar.
O vestido arrasta-se entre orgulhos,
abre caminho entre copos e tonéis de ódio!
Olhos brilhantes, pernas vagas,
passos ecoam ao mesmo tempo por entre os pilares...
Os suspiros evocam um antigo tempo em comum
e demonstram um futuro desejo em par.
Os olhares, cansados de tantos corpos,
já desistiam de explorar a realidade...
“Porque perder tempo com tais rochedos?
Com tais asas enormes, podemos voar!”
E no entanto, os olhos se cruzam...
Arritmados, os corações esquecem de bater,
o dele queima como mil sóis ardentes,
o dela pesa mais que o mundo de Atlas...
As pernas, a esta altura já livres de prudência,
dirigem-se ao encontro inevitável.
O ar, fugindo dos pulmões,
percorre o espaço cada vez menor entre os dois...
Estão próximos, tão próximos que
os pensamentos pulam entre suas mentes,
tão próximos que o calor dos corpos
fundem-se num sistema único.
As mãos tocam-se, gélida pedra e fogo ardente,
unem-se num material raro, único,
em forma de um coração gigante...
Peça rara a que chamamos de amor...
Rafael Moura, 17/03/2009
*Desenho feito por Tiago Vieira*
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Now playing: 20 Yann Tiersen - La valse des monstres
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sábado, 14 de fevereiro de 2009
Cidades
perdem-se nas planícias de asfalto.
A natureza
(al)
terada
(adul)
terada
Terá ela paciência mais
vez que mais e mais
mais estamos e mais matamos...
O vento quente até poderia sussurrar
aos ouvidos
se os pulmões ainda tivessem fôlego
e o suspiro estertor queima como chuva ácida..
Algo como um terremoto
treme o chão.
Passa às minhas pernas
dobra meus joelhos, aperta meu estômago
tomando minhas veias, corre pelo coração
invade os pulmões como a uma revolução armada...
e me faz, arauto do sofrimento,
gritar uma angústia de morte futura...
O grito de uma geração matricida...
Rafael Moura, 14/02/2009
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Now playing: Nile - As He Creates, So He Destroys
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Um Dia...
Um dia
Talvez eu possa respirar
O mesmo ar que vive a circular
Estes primos e primas que, a dançar,
Matam seus próprios filhos a agonizar
Um dia
Talvez eu possa compreender
Corações insadecidos, almas a arder
Penitências pagas com o chicote a bater
Lágrimas de ódio da face a escorrer
Um dia
Talvez eu possa sentir
O desejo imoral de tudo possuir
Que invade a mente , em vão, a resistir
E de toda a moral vem nos despir
Um dia
Talvez ser humano possa me considerar
Talvez normalmente poder viver
Talvez apenas como um zumbi poder existir
Rafael Moura, 26/01/2009
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Now playing: Anthony and the Johnsons - One Dove
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domingo, 25 de janeiro de 2009
Anthony and the Johnsons - The Crying Light
Now playing: Anthony and the Johnsons - Her Eyes Are Underneath the Ground
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Heresia amorosa...
Poderia o Sol permitir
Que os mortais diretamente o olhassem?
Poderia a Lua consentir
Que os homens simplesmente a roubassem?
"Mortal impuro, sabe o que desejas?
Queres profanar tão perfeita criatura,
Queres aterrorizar àquela que cortejas,
Emudecer tua voz com tua feiúra?"
Qual Ícaro e suas asas de cera a voar,
Qual Apolo 11, descendo o solo lunar,
Ouso o risco de tua ira provocar,
Ouso o desejo de sua mão, de tua boca beijar,
Ouso a heresia de querer distâncias ultrapassar,
Ouso a esperança vã de poder te amar...
Rafael Moura, 23/01/09
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Now playing: Diamanda Gallas - Gloomy Sunday
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Cinco Modelos de "Adequação Individual"
Now playing: The End Of All Reason - Ascending The Throne Once More
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Isso é o que dá ficar sozinho... =|
Rastejando por letras
Que não formam o seu nome
Formam algo incompreensível para mim
Ruídos em harmonia
Percorrem o ar até meus ouvidos
Nenhum deles parece ser sua voz
À força procuram entrar
Chamando a atenção para algo
Fora daquilo que chamo coração
Engraçado, logo hoje que todos
Os relógios pararam misteriosamente
Justamente o dia que
Resolvo te procurar por aí
Paro por um momento
E escuto a voz dos ventos
Eles me dizem que você está
A muitos anos-luz de distância
Como se eu nunca fosse te ver
E de você só tenho
O nome a dançar sob meus olhos
A voz a ecoar nos meus labirintos
E o suave cheiro trazido pelos ventos...
Rafael Moura, 19/01/2009
Saída do Inferno
Se, como dizia o escritor russo,
O inferno é incapacidade de amar
Entendo o porque da minha vida neste curso
Com enxofre e demônios a me rodear
Mas eis que às margens do Letes tortuoso
Vejo, qual miragem, belos olhos a brilhar
Eu, mortal vazio e desesperançoso
Com medo mortal, desvio o olhar
Será talvez Beatriz, anjo de luz e bondade,
Condoída desta pobre alma sofredora
Que, num ato gentil de caridade
Veio purificar tal alma pecadora?
"Tenho o nome da esposa terceira
De teu longínquo pai, o primeiro humano..."
Dizia ela, enquanto sorria de tal maneira
Que tive certeza de que isto só podia ser engano...
"...E, igual a ela, quero compartilhar contigo
Esperanças e dor, alegrias e pesar
Trago a ti, meu amado e amigo
Novamente a possibilidade de amar."
Rafael Moura, 20/12/2008
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Now playing: Edith Piaf - La Vie, L'amour
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Berserker
Espuma que escorre da boca
Fel que à garganta desce a queimar
A voz, por meio dos gritos, deixa rouca
Transforma o brilho dos olhos num faiscar
O grito que ecoa ao ar, lança-se forte
Trovão que anuncia tempestade de dor
Entrega-se, berserker, à sua sorte
Perde a esperança e o temor
Os olhos a enxergar a rubra cor
Focados à visão do tão odiado inimigo
A boca seca só reconhece um sabor:
Sangue, adversário ou amigo
Sangue e suor misturam-se na pele
Corpos movimentam-se ao calor da batalha
A besta, que todo traço humano repele
Fatia-nos a humanidade com uma navalha
E aos ouvidos, uma risada mistura-se às batidas
Ritmadas do coração e do ranger dos dentes
É aquele que, sempre presente e às escondidas
Guia, no cabresto, nossos atos mais doentes.
Rafael Moura, 20/12/2008
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Now playing: Tori Amos - Horses
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Mentes fortes x Mentes fracas
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Now playing: The Cure - Lovesong
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Somos sombra dos humanos que fomos antes
Cortinas de fumaça cobrem o futuro
Gás lacrimogênio entra em nossas narinas
A face da morte, pichada no muro
Indica o fim de nossas sinas
"Diga-me um ser humano
Que ame com todas as fibras do ser
E eu salvarei esse mundo tirano"
Dizia o algoz ao anoitecer
Olhos envergonhados e lacrimosos,
Sempre dissimulados em vida,
Mostravam corações desamorosos
Frutos de uma vida inteira ressentida.
"Acabe logo com este sofrimento
Sabes que entre nós não há mais amantes
Só narcisos, almas em busca do próprio alimento.
Somos sombra dos humanos que fomos antes."
Rafael Moura, 09/11/2008
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Now playing: Tori Amos - Spring Haze
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Tentativa de retorno, cena 2, tomada 7p
Now playing: Tori Amos - Suede
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Texto de Wagner Moura sobre a nossa televisão
Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo "que coisa horrível" (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.
O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.
Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.
No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a "cagada" que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?
WAGNER MOURA é ator
Sábias palavras...
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Now playing: Chico Buarque - Meu Caro Amigo
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O fim do processo penal
Now playing: Gotan Project - Santa Maria (Del Buen Ayre)
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Olhos Indiferentes
A respiração forte indica
O que se passa pela cabeça descontrolada.
O coração que sacrifica
Últimas lembranças da vida amada.
Pensamentos giram ao redor da mente,
Antes de estuprá-la aos milhares.
A pele não mais normalmente sente...
Os olhos indiferentes aos olhares...
Um grito incontrolável escapa da boca,
Enchendo o ar ao redor de ódio.
Deixando a cavidade toráxica vazia e oca
E, por um segundo, inebriando como ópio...
As unhas rasgam a carne como quem rasga
O Normal, que tenta iludir os olhos todos...
A espuma, filha da Febre, quase engasga,
Assustando os mais tolos...
A Visão que pulsa atrás da retina
É a mesma que afasta teus "iguais"...
E a verdade, velha e querida assassina
É que inteiro tu novamente será jamais!
Rafael Moura, 17 de fevereiro de 2008
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Now playing: eths-7 animadversion
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Alguém querido...
Abro os olhos.
A luz do sol indica mais um dia,
E a lembrança de um sorriso
Me arranca um sorriso da face.
O barulho da rua ecoa
Pelo quarto, como em uma caixa.
Mas pelo ar flutua um só nome.
Nome de princesa, nome de menina.
As letras dos livros ganham vida,
Dançam em frente aos olhos.
Formam curvas, silhueta da dama.
Formam rostos, todos duma só...
A luz ligada, para melhor ver,
Acaba por enganar ainda mais.
Se transforma em brilhantes olhos
Fechados, do sorriso que escapa da boa.
Quando cai a noite, o silêncio
Inunda os ouvidos como enchente.
Os ouvidos, já acostumados,
Têm a impressão de ouvir
A voz de alguém distante.
Alguém querida e amada,
Alguém que é impossível esquecer...
Rafael Moura, 10/01/2008
Difícil tentar esquecer qualquer coisa assim, não?
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Now playing: iLiKETRAiNS - Spencer Perceval
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Assim...
E foi assim...
Um estalo, um barulho
E a gente se dá conta
De que falta algo
Que já tinha sumido
A muito mais tempo
A gente percebe o coração
Bate normal, cadenciado
Não mais freneticamente como era
A respiração não mais ataca
E o suor não mais desce pela face
Aqueles olhos tão brilhantes
Já não nos trazem a morte
E o sorriso bonito,
Antes portões do céu,
É apenas um sorriso bonito
Sem aviso prévio
Sem a dor que tanto insistia
Durante o processo final
Sem nada mais, só o vazio
E a sensação de que
Um sentimento acabou de acabar...
Rafael Moura, 05/01/08
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Now playing: iLiKETRAiNS - The Deception
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Abandono
Now playing: Joy Wants Eternity - Uriel
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Sozinho
Sozinho
Por entre árvores retorcidas
Vidas mal-vividas
E telas repartidas
Sozinho
Por entre alguns viventes
Muitos zumbis indecentes
E uns poucos corações carentes
Sozinho
Por entre avenidas lotadas
Por entre vidas atacadas
Por entre pessoas desalmadas
Sozinho
Apesar de companhia de muitos
Apesar da amizade de poucos
Apesar do quase-amor de alguns
Sozinho
Ultimo de uma geração
Dono de um pensamento vão
Talvez, dentre todos, o único são
Sozinho
A procura de companhias
Talvez até algumas alegrias
Mas com o pouco cheio de agonias
Rafael Moura, 09/12/07
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Now playing: Adriana Calcanhoto - Inverno
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Pedimos o que tivemos...
Sei que não sou o único
Milhares da minha espécie
Povoam as noites mundo afora
Mas olho pela janela lateral
E nada me faz sentir em casa
Sou um perdido em meio
A um comercial de cereais.
Não sei sobre céu ou inferno
Mas se inferno realmente existe
Já tenho noção de como é.
Se a verdade é que o amor
É a doce chuva que cai do Único Acima
Então realmente ela nos foi negada.
Seres crescidos por entre as sombras,
Nossa espécie não mostra
Qualquer capacidade para beber
De tal chuva.
Lembra? Beberemos sangue,
Comeremos cinzas duma terra
Encharcada por nossas lágrimas.
E talvez cinqüenta, quinhentos anos,
Até que entendamos que
Não tinha nada a ver com destino.
Nós mesmo, por sermos o que somos,
Pedimos o que tivemos...
Rafael Moura, 02/11/07
(Por que às vezes é complicado ser sozinho...)
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Now playing: Protest the Hero - Blindfolds Aside
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Querer Demais
Querer Demais
Um suspiro, um beijo, um abraço
E eu soube que eu te perdi
Mas nada que faça ao acaso
Retornará o que eu senti
De repente a luz esvaiu-se
De repente, não mais do que repente
E tudo aquilo o que a gente sente
Se esvai em poeira de sonhos
Mesmo sem saber o que fazer
Eu sabia o que queria, o que eu faria
Se pudesse te ter pra sempre
Se ficasse ao seu lado daqui pra frente
Mas talvez fosse querer demais
Algo que você não queria que desse certo
O incerto era algo que a gente mesmo criava
Agora só a certeza de um futuro comum...
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Now playing: Jay Vaquer - Noutro Caminho
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foto: José Afonso.
Tiro no Pé
Poema Bobo
Poema “Bobo”
Não serão só sorrisos
Serão sorrisos velhos, novos, antigos
Sorrisos de amizade, e de mais que amigos
Sorrisos escancarados ou escondidos
Não serão só abraços
Serão aconchegos, encostadas e amassos
Abraços de tristeza em poucos casos
Mas de alegria na maior parte, daquelas que preenchem todos os espaços
Não serão só olhares
Serão olhares de carinho e cumplicidade aos milhares
Como milhares de afagos, gestos de amores
Abrindo nossos sorrisos em todos os lugares
Não serão só beijos
Serão declarações de amor, de desejos
Ardentes como fogo, rápidos como lampejos
Francos como um beijo roubado, ou escondendo mil ensejos
E não será só alegria, enfim
Será a alegria plena, uma criança num campo de jasmim
Alegria grande, besta e boba, com enormes sorrisos de marfim
A mesma alegria que sinto contigo perto de mim
Rafael Moura, 22/08/07
Irmãos das Almas
Irmãos das Almas
Por que estragar a própria vida é um direito inalienável
Estou no meu direito, minha vontade
Por que não sentar em uma poltrona
E esperar a morte chegar?
Seria bem menos hipócrita do que são
Estes morto-vivos risonhos...
Seria melhor que viver nesse show de Trumam
Sendo que no caso, é o show de José, ou Severino
E esse show é muito mais cruel...
Os irmãos das almas revezam no peso
E no papel de morto também
Mas, afinal, o que são esses vampiros
Com máscaras de teatro grego?
Somos nós, que nos alimentamos dos outros mortais,
Nos vangloriando de nossa espécie
E fingindo o tanto quanto podemos
Rafael Moura
Cainita
Os últimos raios de sol invadem o quarto
Atravessam as cortinas e incidem no chão
Tão fracos que não me ferem, tão pouco dissipam a escuridão.
Feroz combustível, que aperta o coração como um infarto.
Olho a lua, sempre presente nesta vida,
Companheira e confidente dos crimes cometidos.
Às vezes até se esconde, penosa dos condoídos,
Que sucumbiram face a essa minha face abatida.
Sim, são muitos. Negar não posso.
Um rebanho que sucumbe ao golpe do carrasco.
Alguns com piedade, raiva ou asco,
Mas nunca houve tempo pra remorso.
São minha vida, meu alimento, meu santo pão.
Rio de sangue a saciar uma sede que não tem fim.
Indiscriminadamente, cor de ébano ou brilho de marfim,
Acabo com suas vidas e causo minha destruição.
Essa é nossa sina, destino da besta que nos habita.
Mortes, sofrimentos, dor e sangue que não acaba,
Pactos, inimigos, serpentes, maldições e caballa,
Enfeitam a trama banal vã do cainita.
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Now playing: Regina Spektor - The Flowers
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