terça-feira, 17 de março de 2009

O Eco dos Passos





















Os passos dele ressoam no salão.
Em meio a milhões de vozes, ele está sozinho.
Como um médico que grita por sanidade
numa casa de loucos...
O guarda-chuva sustenta o corpo,
a chuva de lágrimas e o coração em chamas.
Os sentimentos, fios de chumbo,
que nem as pernas de aço sustentariam...

Os saltos dela vencem os degraus de acesso.
A porta abre-se para tão grande coração passar.
Os cabelos e o vestido, num ritmo uniforme,
balançam corações e desejos...
As flores junto ao peito tentam, em vão,
calar um grito que insiste em ecoar.
O vestido arrasta-se entre orgulhos,
abre caminho entre copos e tonéis de ódio!

Olhos brilhantes, pernas vagas,
passos ecoam ao mesmo tempo por entre os pilares...
Os suspiros evocam um antigo tempo em comum
e demonstram um futuro desejo em par.
Os olhares, cansados de tantos corpos,
já desistiam de explorar a realidade...
“Porque perder tempo com tais rochedos?
Com tais asas enormes, podemos voar!”

E no entanto, os olhos se cruzam...
Arritmados, os corações esquecem de bater,
o dele queima como mil sóis ardentes,
o dela pesa mais que o mundo de Atlas...
As pernas, a esta altura já livres de prudência,
dirigem-se ao encontro inevitável.
O ar, fugindo dos pulmões,
percorre o espaço cada vez menor entre os dois...

Estão próximos, tão próximos que
os pensamentos pulam entre suas mentes,
tão próximos que o calor dos corpos
fundem-se num sistema único.
As mãos tocam-se, gélida pedra e fogo ardente,
unem-se num material raro, único,
em forma de um coração gigante...
Peça rara a que chamamos de amor...

Rafael Moura, 17/03/2009

*Desenho feito por Tiago Vieira*
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