domingo, 14 de fevereiro de 2010

Contando as Lágrimas

A luz da lua penetra pelas cortinas,
Dança no chão como um fantasma.
O frio saí da caixa de carne
Que guarda aquele já desgastado coração,
E invade o quarto, foge pela janela...
A bebida dançante na taça
Não consegue esquentar aquele olhar fixo.
Os braços vazios apertam o espaço,
Se envolvem no corpo à procura de calor.
O corpo, por sua vez, embala-se, insano, inconscientemente
Para frente e para trás, pêndulo, relógio quebrado,
Irradiando uma escuridão que engole o quarto.
O sorriso aos lábios, eventual e gélido,
Arauto de dor e loucura que invade a alma,
É o único sinal de vida no rosto de mármore.
Nas mãos, uma carta amassada,
Vestígios do último contato com a humanidade.
No peito a noite, indiferente e fria,
Segue contando as lágrimas e desesperos...

Rafael Moura, 15/02/2010
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Now playing: Portishead - Western Eyes
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A Amada

Ah, os carinhos da amada
Calor e sonhos a envolver o feto na materna barriga
Confiança inocente de criança abraçada à sua confidente-amiga
Conforto entorpecente daqueles apenas vistos em antigas
Estórias de amor, que os trovadores nos passavam nas cantigas

Ah, os beijos da amada
Metal frio e fogo abrasador a percorrer a espinha
Do desejo tranforma o homem em montaria, e este caminha
Suavemente entre os corpos, amantes, rei e rainha
Reino criado para os dois pela amada minha

Ah, as palavras da amada
Sabedoria de séculos que escapa dos lábios tão joviais
Sinto-lhe antiga, a ler manuscritos a luz de castiçais
Beleza das artes, natureza humana, da história os anais
Prazer de palestrar ao som dos ventos, talvez em algum cais

Ah, o amor que sinto pela minha amada
O melhor de todos os sentimentos desta minha vida desgastada
Quem diria que eu, de existência amargurada, e tu, da vida entediada
Nos encontraríamos um dia para, vítimas de do destino uma emboscada,
Nos unirmos para tentarmos viver uma vida toda juntos, uma vida apaixonada

Rafael Moura

12/02/2010
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Now playing: Novos Baianos - Eu Sou O Caso Deles
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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Todo saudades



















Todo saudades é meu coração
Olhar lânguido ao horizonte
Céu cinza refletido aos olhos
Marcas de dor e solidão junto aos carros

Todo saudades é meu coração
Andar perdido entre a multidão
Barulho insuportável de tráfego e pó
O sol que esquenta-nos como panela de pressão

Todo saudades é meu coração
Seios que não são seios
Bocas que não são bocas
Rostos que não são o teu

Todo saudades é meu coração
Sem saúde-dá-de comer à tristeza
Alimenta com sôfrega aflição
Parasita necessário e companheiro

Todo saudades é meu coração
A ausência sente-se mais que qualquer presença
Todo vácuo impressiona mais os sentidos
Pois aquilo que nos falta nos é o mais importante

Rafael Moura, 02/02/2010
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Now playing: Enfold Darkness - Dead In The Brine
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