sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Solano Trindade

SOLANO TRINDADE, "o maior poeta negro que o Brasil já conheceu", segundo ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade, foi também ator, pintor, cineasta e o criador do Teatro Experimental do Negro.

Esse pernambucano conquistou prêmios internacionais e, apesar de ter divulgado o nome do Brasil no exterior, acabou esquecido: morreu como indigente, num hospital do Rio de Janeiro. Hoje, quase ninguém mais fala desse filho de um humilde sapateiro do bairro de São José que viveu para cantar a sua gente.

Poeta, cineasta, pintor, homem de teatro e um dos maiores animadores culturais brasileiros do seu tempo, o pernambucano Francisco Solano Trindade foi, para vários críticos, o criador da poesia "assumidamente negra" no Brasil. Premiado no exterior, elogiado por celebridades como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet e tantos outros, o negro (e pobre) escritor recifense está hoje completamente esquecido, apesar de tudo o que fez pela cultura e pelas artes do País. Para se ter uma idéia da importância do poeta, que era filho de um humilde sapateiro do bairro de São José, basta uma rápida reconstituição de sua biografia.

Depois que deixou o Recife e fixou residência no Rio de Janeiro, Solano Trindade foi o idealizador do I Congresso Afro-Brasileiro e, anos mais tarde (1945), criou, com Abadias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro. Depois (1950), concretizou um dos seus grandes sonhos, fundando, com opoio do sociólogo Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro (TPB). Em 1955 criou o Brasiliana, grupo de dança brasileira que bateu recorde de apresentações no exterior. No teatro, foi Solano Trindade quem primeiro encenou (1956) a peça "Orfeu", de Vinícuis de Morais, depois transformada em filme pelo francês Marcel Cammus.

Mas a biografia de Solano Trindade não pára por aí. Em São Paulo, onde o TPB empolgou platéias no Teatro Municipal, foi ele quem transformou a cidade de Embu num centro cultural onde dezenas de artistas passaram a viver da arte. No exterior (Praga), realizou o documentário "Brasil Dança". Como ator, trabalhou nos filmes "Agulha no Palheiro", "Mistérios da Ilha de Vênus" e "Santo Milagroso". E mais: foi co-produtor do filme "Magia Verde", premiado em Cannes. Na literatura, Solano estreou em 1944, com "Poemas de uma Vida Simples" e publiou ainda outros dois livros: "Seis Tempos de Poesia" (1958) e "Cantares ao Meu Povo" (1961).

Enquanto atuou na vida cultural brasileira, Solano Trindade ("esse genial poeta", na classificação de Carlos Drummond de Andrede) recebeu os maiores elogios da crítica. Seu livro de estréia, por exemplo, foi classificado por Otto Maria Carpeaux como "uma pequena preciosidade". Tinham opinião semelhante sobre a sua poesia, nomes de peso como Afonso Schmidt, Roger Bastides, Fernando Góes, Arthur Ramos e Nestor de Holanda. Já o trabalho do Teatro Experimental do Negro (TEN) foi, segundo Darcy Ribeiro, "um núcleo ativo de conscientização dos negros, para assumirem orgulhosamente sua identidade e lutar contra a discriminação".

Aliás, todo o trabalho de Solano Trindade (quer no teatro, dança, cinema ou literatura) tinha como características marcantes o resgate da arte popular e, sobretudo, a luta em prol da independência cultural do negro no Brasil. A ponto de Sérgio Milliet chegar a escrever que "poucos fizeram tanto quanto ele pelo ideal de valorização do negro em nossa terra". Estaria aí uma razão para o seu esquecimento? Fica a pergunta. O certo é que, durante a estréia no Rio, em maio de 1945, o TEN sofreu violentos ataques dos conservadores. Em editorial, o jornal O Globo chegou a afirmar que se tratava de "um grupo palmarista tentando criar um problema artificial no País".

Solano Trindade nasceu no Recife a 24 de julho de 1908. Aqui, criou em 1932 a Frente Negra Pernambucana, mas o movimento não vingou. Enquanto viveu no eixo Rio-São Paulo, ao mesmo tempo em que sua obra ganhava fama entre a crítica nacional e repercussões no exterior, nunca deixou de realizar oficinas para operários, estudandes e desempregados. Em 1944, por conta do poema Tem Gente com Fome, foi preso e teve o livro "Poemas de uma Vida Simples" apreendido. Em 1964, um dos seus quatro filhos (Francisco) morreu numa prisão da didatura militar. A 20/02/ 1974, Solano Trindade morreu como indigente, num hospital no Rio de Janeiro.

Um das poucas tentativas de trazer de volta o nome de Solano Trindade para o grande público ocorreu entre 1975, quando o poema Tem Gente com Fome iria integrar o disco dos Secos & Molhados. Mas, como explicou João Ricardo (que musicou o poema), problemas com a censura impediram a gravação. Só na década de 80, Ney Matogrosso gravaria a canção. Além disso, em 1976 a escola-de-samba Vai-Vai, do Bexiga, São Paulo, desfilou no carnaval com o enredo em homenagem ao poeta. E ano passado uma pequena editora (a Cantos e Prantos, SP), reuniu a obra do poeta no volume


"Solano Trindade - O Poeta do Povo".

O lançamento do livro no Recife estava programado para julho de 2000, numa iniciativa de uma filha de Solano Trindade que viria do Rio de Janeiro especificamente com esse objetivo. Mas, em decorrência das limitações estruturais da editora, o lançamento não ocorreu e a edição está longe de constituir um justo resgate da obra do escritor que dedicou toda a vida ao estudo sério e aprofundado da cultura negra e, um dia, declarou: "A minha poesia continuará com o estilo do nosso populário, buscando no negro o ritmo, no povo em geral as reivindicações sociais e políticas e nas mulheres, em particular, o amor. Deixem-me amar a tudo e a todos".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Oração

Eternas estrelas, brilho sem fim
Eterna lua, globo de marfim
Eterno sol, luz incandescente
Eterna Terra, hoje já decadente

Eternos rios, eternos mares
Eternos gelos não mais eternos
Eternos átomos que preenchem os ares
Eternas estações, eternos ares primaveros

E também Tu, Único Acima
Vós todos que do tempo são senhores
Apesar de toda esta parca rima

Concedei-nos a força de todos os amores
Concedei-nos o fogo eterno que anima
Um amor para sempre, simples, sem temores

Rafael Moura, 18/11/09

Era pra ser uma oração, não gostei muito do que acabou surgindo...
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Now playing: No Consequence - Age Of Fear
via FoxyTunes

domingo, 15 de novembro de 2009

Selinho


Ganhei esse selo da Andressa Pereira. Ainda não sei muito bem o que fazer com ele (eu e meus conhecimentos atualizadíssimos da blogsfera). Nway...

As regras são dizer coisas que começam com:
1) - Eu já... solucei de tanto chorar ao perceber que estava perdendo a mulher que eu amo;
2) - Eu nunca... consegui entender porque as mulheres sempre preferem os cafajestes;
3) - Eu sei... que os rios e as pessoas sempre são diferentes;
4) - Eu quero... sempre ser o que quiser, sem desesperar;
5) - Eu sonho... em fazer a Eva sempre feliz.

E.. indicar para 5 blogs.
Eis o problema. Vou ficar devendo isto, não tenho ninguém pra enviar. Sou um solitário da blogsfera, portanto, nem rola.. =/

Nway, vou indicar cinco blogs que acho legais:

1) Miríade - Mil em Uma
2) Poemblog
3) Morro Guarda-Chuva
4) Falando de Fantasia
5) Neuróticos Modernos - Filosofia Mequetrefe

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Longe de Ti

Longe de ti

Longe de teus ouvidos
Todo som emudece, vira vibração inaudível no ar
Toda palavra pronunciada parece carecer de sentido
Toda jura de amor perde o motivo
Longe de tua pele
Todas as mãos atrofiam, todas estão sujas
Todos os toques tocam o espaço, o vazio
Todas as unhas arranham nosso próprio coração
Longe de teu cheiro
Todos os narizes estão onde não foram chamados
Todos os perfumes exalam choro e morte
Todos os cheiros lembram tua pele
Longe do teu brilho
Todos os dias são breu, sao piche
Todos os sóis são substitutos falhos
Todas as estrelas choram tua falta
Longe dos teus olhos
O mundo, cego, deixaria de aparecer
Lágrimas escorreriam dos meus olhos
Meu sorriso perderia o brilho pouco que tem
Longe dos teus sorrisos
Tudo o mais não faria sentido
Nenhum batimento, nenhum suspiro
Não existiria nada para chamar de Eu...

Rafael Moura